HOMILIA DOMINICAL E REFLEXÃO: DOM JOÃO CARLOS CARDEAL VITALLI
Festa da Exaltação da Santa Cruz
(Jo 3, 13-17)
Naquele tempo,
disse Jesus a Nicodemos: 13“Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu
do céu, o Filho do Homem. 14Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que
todos os que nele crerem tenham a vida eterna.
16Pois Deus amou
tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que
nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao
mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.
REFLEXÃO:
A Cruz: estandarte
do Cristão
Meus irmãos, o
verdadeiro sentido da realeza de Jesus só se manifestou do alto da cruz
(Catecismo, 440). O trono do Rei Jesus, aqui na Terra, foi a Sua cruz. Foi nela
que brotou, do coração de Cristo, a nossa salvação. Aos pés da cruz se restaurou
a humanidade ferida. Lá fomos salvos, redimidos da culpa.
Antes, no deserto,
o povo de Deus, no caminhar rumo à terra prometida, tantas vezes ferido pelas
serpentes, para curar-se do envenenamento, ergueu uma serpente de bronze numa
haste. Lá, no calvário, a humanidade, no caminhar rumo ao Reino, tantas vezes ferida
pelo pecado, era redimida e liberta da morte quando o Filho do Homem, feito
carne, fora erguido na cruz.
é
necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele
crerem tenham a vida eterna.
Antes, o povo de
Deus celebrava o memorial da Páscoa, comendo os pães ázimos e as ervas amargas,
a fim de tornar presentes os acontecimentos do êxodo, celebrando a sua
libertação. No Novo Testamento, o memorial recebe um novo sentido. Em toda missa
celebramos a anamnese, memorial do novo povo de Deus, vivemos nova
páscoa, tornando-se presente o sacrifício que Cristo ofereceu, uma vez por
todas, na cruz, torna-se sempre atual.
A cruz, é
portanto, “o altar da nova aliança [...] do qual brotam os sacramentos do
mistério pascal” (Cat. 1182). Não é sinal de fracasso, mas de uma esperança
certa de que Jesus, sendo nosso caminho, é também a nossa meta. A Santa Mãe
Igreja nos ensina que “o caminho da perfeição passa pela cruz. Não existe
santidade sem renúncia e sem combate espiritual” (Cat. 2015). Ora, não podemos
seguir outro caminho senão Cristo, e Ele nos mostrou a partir de sua passagem
nesta terra que o Reino dos Céus é dos violentos (Mt 11,12). Essa frase
pode parecer estranha à primeira vista, mas a interpretação da Igreja não
entende “violência” aqui como agressão ou brutalidade, mas como força
espiritual: decisão, coragem, empenho radical em buscar a Deus, rompendo com o
pecado e com as tentações do mundo. Assim nós devemos ser: com força e coragem
levantar nossa cruz nos gloriando da fortaleza de Cristo que nos sustenta.
Dizia o Papa
Francisco, de saudosa memória, que “o cristianismo não existe sem a Cruz e não
existe Cruz sem Jesus Cristo. Assim um cristão que não se sabe glorificar em
Cristo crucificado não percebeu o que significa ser cristão”. Ora, não pode
haver cristão sem cruz e, sem Cristo, a cruz é cinismo. A cruz era símbolo de
tortura e a morte de Cristo é “escândalo para os judeus e loucura para os
gentios; mas, para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é
poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1,23-24). Para nós, a cruz não é mais
sinal da perdição do condenado, mas é libertação do escravo; é a nossa carta de
alforria, nossa salvação e nossa vida. Devemos, portanto, gloriar-nos na cruz
de Jesus, nosso senhor (cf. Gl 6,14), pois, como diz São Leão Magno, “não há
motivo de vanglória maior para o homem do que o madeiro pelo qual foi redimido”.
Que tenhamos a
coragem de ter a cruz como nosso estandarte e a força de carregá-la, para que,
no fim de nossa jornada, possamos descobrir seu mistério de redenção. Inspirado
nos ensinamentos de São Francisco de Sales, podemos dizer: quem contempla a
cruz descobre que a verdadeira glória de Deus não é destruir, mas salvar.
In Cor Iesu,
+ Cardeal Vitalli
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